Que tal usar os
conflitos para trabalhar valores?
Quando dois alunos brigam em sala, normalmente são
suspenso ou advertidos, certo. Mas será que isso faz com que aprendam a resolver
suas diferenças dialogando, sem agressão . Estudos que não.Se uma criança ou um
jovem furta algo,mente ou desrespeita alguém, o adulto deve ensiná-lo a não
agir assim.Contudo,o modo como a intervenção é feita interfere em como eles
lidarão com os conflitos. Os dois garotos do exemplo podem até evitar o
confronto na escola, para não serem punidos, mas observamos que eles tendem a
continuá-lo em espaços virtuais ou ¨lá fora¨,transferindo a situação de lugar.
Algumas instituições de ensino tentam conter ou evitar
os conflitos, vendo-os apenas como problemas. Porém, eles são necessário ao
desenvolvimento e oportunidades para se trabalhar valores e regras. Isso porque
as desavenças causam um desequilíbrio que motiva a criança a refletir sobre o
que fazer para restabelecer a relação.Elas promovem a necessidade de
argumentar, de cooperar e impelem a agir levando o outro em conta.
Dessa forma, se a convivência democrática é um valor
importante para a escola,ela deve refletir em ações institucionais efetivas.
Uma maneira é oferecer espaços sistematizados de mediação para melhorar o convívio,
como as assembléias ( ou círculos de diálogos ) e os círculos restaurativos.
As assembléias são momentos em que o grupo discute
questões coletivas,ou seja, que envolvem a maioria, como os apelidos
pejorativos, a escolha dos times e a presença do bullying. Nelas professores e
alunos se reúnem periodicamente para conversar sobre a conviência na escola (
dificuldades e êxitos ), tomar consciência das relações, colocar suas
perspectivas e transformar o que o grupo achar necessário para melhorar o convívio.
Elas são portanto, um exercício da cidadania, onde as
regras são elaboradas constantemente e as soluções negociadas com base respeito
mútuo. O foco está no problema ocorrido, e não em ¨de quem é a culpa¨. Assim,
não será discutida uma briga específica entre dois amigos, mas as brigas entre
colegas, os sentimentos de raiva, o desrespeito e as ações decorrentes.
Já as situações particulares de conflito, como
discurssões de namorados e fofocas, podem ser trabalhadas nos círculos
resataurativos, que são mediações privadas, de modo a resguardar a dignidade
dos envolvidos. Neles, as partes se reúnem para falar e ouvir um ao outro,
considerando as necessidades e os sentimentos recíprocos, e chegar a um acordo.
Um adulto, que pode ser um professor, atua como facilitador, conduzindo a
conversa. Esse procedimento tem como princípios o diálogo e responsabilização
pelas atitudes, tratando o conflito de forma não punitiva.
Muitosalunos usam a agrassão ou submissão para lidar
com as desavenças. No entanto, uma solução positiva para um conflito sugere um
equilíbrio entre a capacidade de persuasão do outro ea satisfação de si
mesmo.Para tanto, é preciso incentivar um processo cooperativo, em que os
envolvidos operam considerando os sentimentos e pontos de vista de todos.
Instaurar essa nova maneira de lidar com a questão da
convivência na escola requer esforço e tempo para que gere resultados, mas
devemos nos questionar: vale a pena insistir num modelo de Educação que, além
de gerar desgastes nas relações entre docentes e alunos, não contribui para que
os estudante aprendam a resolver seus conflitos de forma cooperativa. Que outrs
oportunidades eles terão para isso, senão na escola.
Em colaboração com Lívia M.Silva,do grupo de estudos e
pesquisas em Educação Moral da Unicamp e da Universidade Estadual Paulista
(Unesp)
Telma Vinha
professora de psicologia educacional da Universidade
Estadual de Campinas(Unicamp)
novaescola.org.br abril 2015
Gostei muito do material, parabéns!
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